Minhas Poesias - Daniele Garcia

Minhas Poesias

Daniele Garcia (Migrassom)



Somos como o sangue,
Que é quente enquanto corre,
E nunca no mesmo lugar
Que são tantas as veias







O Poema e as Coisas

O poema é uma coisa
De onde se tiram coisas
E das coisas
De onde se tira o poema
Surgem novas coisas
Novos poemas
E mais tempo
Para limpar
as coisas e os poemas
E mais poemas
Para limpar
as coisas e o tempo.

É...

Cada boca é um jato
Que se apoia na ponta de um lápis
E ganha força
E distância no tempo.
Cada folha uma cadeira.
Cada cabeça uma dispensa.
E também no fundo
Todas são a mesma coisa.


DMG - 19/10/2008 - 01h 58min (H.Verão)





CIRCUNS-TEMPO
DG, 2006

A CLAUSURA DA ALMA

MORA NO IMPOSTO

COMPOSTO DE DOR E PERDA
PERDE QUEM IMPÕE POSTO
PERDE QUEM IMPÕE PENA

SE JÁ PERDE QUEM VOS DEIXA
PERDE MAIS VIDA DESLEIXA
AO QUE SE PROPÕE NÃO FARÁ
DEIXA AO LÉU A AURA ESPREITA

LARGA, TOMBA, DEIXA ASAS
CORTA FORA E AQUI SE DEIXA
VAI LEVANTE, CORTA POEIRA
CORTA O MUNDO, VIDA ESTREITA

O CABRESTO, VESTE NEGRO
NÃO HÁ LUZ QUE TE ACOMETA
ONDE ANDAM OS TEUS SONHOS
NO PESADELO EM QUE ACEITAS?

O QUE ANTES ERA O PESO
PELOS PASSOS, PELOS ERROS
DÁ LUGAR À "CIRCUNS-TEMPO"
NO RIO QUE AJOELHA À SECA

NÃO TE MANDAS, NÃO TE MANDO
NÃO DEVIAS, SE JÁ DEVES

SONHOS RAROS VÃO SUMINDO
DORME SECO TEU DESTINO

CIRCUNS-TEMPO, RI-TE AGORA
AO VER TÃO SIMPLES CLAUSURA
TÃO FÁCIL ABRIR UMA PORTA
DO QUE SOPRAR RACHADURAS


NÃO TEM HORA A CIRCUNS-TEMPO
À NÃO-LOCUS SE ASSEMELHA
RETOME A VELA, ACENDA
E ASCENDA uma VIDA INTEIRA

DG – 07/07/2007 – 07h07m


Depurar

Olhos de penumbra
À procura do vazio
Que queres procurar a mais?
Tão vã já encerra a tua

Procura

Infinito jugo prazeiroso
De cartas marcadas
De tu sobraste nada
Não chegaste ao tal curso

Das montanhas sem cume
Rua estreita sem saída

E morta e gélida é tua coragem
De sim correr dentro a sombra
Do vazio de teus pensamentos
E fazer surgir luz impura
De água turva que criaste

Ressucita tua coragem
No calor clareia a palavra
A palavra que clareia

Depurar

DMG - 14/01/2008



Falamos

Falamos do externo que nos converge
Mas nunca do que nos converge ao externo

Falamos,
Enquanto a linguagem oculta se intercambia
Enquanto a linhagem se desvaira
Enquanto a imagem se distancia

Falamos,
E o jogo se faz
Tal qual a raposa e o príncipe
Sem cativeiro, senão
O da própria palavra.

A palavra que abre portas
Mas emenda labirintos
Que confunde o que sentimos
Em delongas alvoradas.

O que será talvez
Antepor a Anima ao revés
Ajoelhar-me aos pés
Da língua oculta da alma.

É de se supor o mito
O grande mito da palavra
Se traduz com brio alma
Ou se cala-bouceando alma
Com seus sutis pormenores

Falamos e calamos
A matéria dos pensamentos
A verdade dos intentos
Com imensas muralhas de pedras
Daqueles que foram calados.

Daí tão real cativeiro
Não se supor, justo ao fim
Se é ao amor, cavaleiro
O amor que cultivei em mim

Por isso é de bem fazer
Bendizer eternamente
A língua oculta que fala
Quando a palavra se cala

Jóia de brilho intenso
No curto espaço de tempo-silêncio.
DMG,12/10/2008 - 9h35min

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